
Hospitais estão a dar resposta e a tentar recuperar actividade não-covid que ficou atrasada. Mas “vamos sentir durante anos a falta de assistência a doentes não-covid”, afirmam os médicos.
Na semana em que os casos de covid-19 dispararam e os primeiros efeitos se começaram a fazer sentir nos hospitais, escolhemos nove unidades de saúde e fomos falar com quem precisou de lá ir por razões que nada têm a ver com a pandemia. Nuns casos encontrámos filas na rua, salas de espera cheias, queixas de consultas e cirurgias adiadas uma, duas, três vezes. Noutros casos, elogios à organização e ao esforço para se recuperar o que ficou atrasado. Mas Noel Carrilho, presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), não tem dúvidas. “Vamos sentir durante muitos meses, possivelmente muitos anos, a falta de assistência a doentes não-covid. Estas consequências vão perseguir-nos.”
O porta-voz do Movimento de Utentes dos Serviços Públicos, Manuel Vilas Boas, acrescenta: “Aquilo que está a acontecer, neste momento, é uma situação perfeitamente inadmissível. Os hospitais estão preocupados, e bem, com a covid, mas as outras patologias que já existiam estão a ficar em segundo plano. Há muitos utentes que não estão a ser tratados, muitas patologias agravam-se e alguns já faleceram por isso.” Representantes de utentes e de médicos, todos se queixam do mesmo: da falta de profissionais de saúde para dar resposta aos vários desafios. Noel Carrilho diz que, depois da primeira vaga, houve uma tentativa de se recuperar alguma da actividade não-covid, mas que o número de médicos continua insuficiente: “Nos cuidados primários e nos hospitais, sem mais recursos humanos e com a covid a criar condicionalismos cada vez mais graves, não conseguimos dar resposta a tudo.”