
Por causa da pandemia, há cirurgias em atraso, consultas desmarcadas, exames adiados e medo de ir às urgências. Há também milhares de mortes, sem explicação. Pode a situação piorar com o novo aumento de casos?
Um olhar ao último relatório do Instituto Nacional de Estatística (INE), revela como, entre 2 de março e 4 de outubro de 2020, o País registou mais 7 474 óbitos do que a média, em período homólogo, nos últimos cinco anos. Descontando as provocadas pela Covid-19, concluiu-se que 5 456 mortes não são explicadas clinicamente pela infeção do novo coronavírus. “Os estudos que têm sido feitos relativamente à mortalidade mostram que o prejuízo deste planeamento e desta organização que temos tido no combate à pandemia está a ter um efeito devastador nos doentes não Covid”, revela Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos.
“É só a ponta do icebergue”, aponta José Fragata, diretor do Serviço de Cirurgia Cardiotorácica do Hospital de Santa Marta, em Lisboa. “Ninguém está preparado para algo assim, mas o SNS não tem capacidade para lidar com a Covid-19 e com as restantes doenças ao mesmo tempo”, acredita. “Fosse por incapacidade dos hospitais ou pelo medo das pessoas, houve trabalho médico que deixou de ser feito”, diz, perentório.